Conflito de Atribuições – Cível
Protocolado nº
053.366/17
Suscitante: 1º Promotor de Justiça de Aparecida (atribuições na área do Consumidor)
Suscitado: 2º
Promotor de Justiça de Aparecida (atribuições na área da Habitação e
Urbanismo)
Ementa:
1) Conflito negativo de atribuições. Suscitante: 1º Promotor de Justiça de Aparecida (atribuições na área do consumidor). Suscitado: 2º Promotor de Justiça de Aparecida (atribuições na área da Habitação e Urbanismo)
2) Pedido de autorização para realização de evento em local público denominado Praça de Eventos, sob a responsabilidade da empresa Choperia e Restaurante Prata Final Ltda., com previsão de venda de ingressos, shows e comércio de alimentos e bebidas.
3)
Muito
embora se possa dizer que haja sobreposição de atribuições, percebe-se com
segurança que a matéria investigada nos autos está relacionada à segurança das
instalações de recreação e à poluição sonora, matérias de atribuição da
Promotoria de Justiça da Habitação e Urbanismo e do Meio Ambiente. Previsão
expressa, no Manual de Atuação Funcional.
4) Preponderância de questões afetas a Promotoria de Justiça da Habitação e Urbanismo e Meio Ambiente.
5) Conflito conhecido e dirimido, com determinação da atribuição do 2º Promotor de Justiça de Aparecida, com atribuições na área da Habitação e Urbanismo e Meio Ambiente.
Vistos.
1) Relatório.
Trata-se de conflito negativo de atribuições, figurando como suscitante o DD. 1º Promotor de Justiça de Aparecida, com atribuições na área do consumidor e infância e juventude, e, como suscitado, o 2º Promotor de Justiça de Aparecida, com atribuições na área da Habitação e Urbanismo, em face de pedido de autorização para a realização evento em local público denominado Praça de Eventos, sob a responsabilidade da empresa Choperia e Restaurante Prata Final Ltda., com previsão de venda de ingressos, shows e comércio de alimentos e bebidas.
Recebido o pedido, o DD. 2º Promotor de Justiça de Aparecida, com atribuição na área da Habitação e Urbanismo, entendeu que a questão ventilada estaria atrelada à área do consumidor, decorrente da venda de comidas e bebidas e segurança do cidadão, determinando com amparo em precedente desta Procuradoria-Geral de Justiça (Pt. 76.163/12), por conseguinte, a remessa do expediente para a 1ª Promotora de Justiça de Aparecida, com atribuição em mencionada esfera (fls.22/24).
A 1º Promotora de Justiça de Aparecida suscitou conflito negativo de atribuições, sustentando que o pedido de autorização para realização de evento de grande porte em espaço público, envolve questões relativas ao uso do espaço público, circulação e segurança e perturbação do sossego, sendo que a apuração das condições de segurança é da Promotoria de Justiça da Habitação e Urbanismo e Meio Ambiente. Afirma ainda que tramita sob a presidência do 2º Promotor de Justiça procedimento destinado a apurar perturbação ao sossego da vizinhança justamente no espaço público em que se pretende realizar o evento, bem como que tal perturbação fora fundamento do indeferimento da Municipalidade questionado pelo autor da representação Aduz, ainda, que é apenas tangencial e secundário o envolvimento de questões relativas ao consumidor e a infância e juventude (fls.26/30).
É o relato do essencial.
2) Fundamentação.
É possível afirmar que o conflito negativo de atribuições está configurado, devendo ser conhecido. Há dois ou mais órgãos de execução do Ministério Público entendem não possuir atribuição para a prática de determinado ato.
O caso em exame envolve pedido de autorização para a realização de evento público, com venda de ingressos, espetáculo musical e comércio de alimentos e bebidas, estimando-se grande concentração de pessoas.
Em eventos da mesma natureza as questões preponderantes referem-se à segurança das pessoas que comparecerão ao evento, bem como poluição sonora.
Na hipótese, ainda que possa cogitar existência de questões relacionadas ao consumidor e à infância e juventude, prevalecem com maior destaque aquelas relativas à segurança dos cidadãos diante da grande concentração de pessoas, às medidas contra incêndio, à previsão de adequadas saídas de emergência, haja vista que o recinto será totalmente cercado.
Não se pode olvidar ainda que, diante da realização de show musical, questões relativas à poluição sonora devem ser consideradas.
O citado quadro sinaliza para o reconhecimento das atribuições da Promotoria de Habitação e Urbanismo e do Meio Ambiente, atribuições do suscitado.
Afinal, na hipótese em análise, o elemento central da investigação é apurar as condições de segurança do evento, especialmente para fazer cumprir a legislação sobre segurança e prevenção de incêndios.
Portanto, está presente interesse afeto às atribuições da Promotoria de Habitação e Urbanismo, uma vez que na hipótese prepondera a questão da segurança do recinto de recreação que será implantado na praça pública.
Não é de se esquecer, ainda, que a recreação é uma função urbana, conforme ensina José Carlos de Freitas (Direito urbanístico, In: Manual de direitos difusos, 2ª ed., São Paulo: Verbatin, 2012, p. 415).
Há de se apontar ainda a atribuição do Promotor de Justiça do Meio Ambiente para questões relativas a poluição sonora (art. 500 do Manual de Atuação Funcional).
Enfim, as questões principais retratadas no expediente estão afetas às atribuições da Promotoria de Justiça da Habitação e Urbanismo e Meio Ambiente.
Posto isso, a atribuição é do 2º Promotor de Justiça de
Aparecida (suscitado).
3) Decisão
Diante do exposto, conheço do presente conflito negativo de atribuições e dirimo-o, com fundamento no art. 115 da Lei Orgânica Estadual do Ministério Público, declarando caber ao suscitado, 2º Promotor de Justiça de Aparecida, com atribuições na área da Habitação e Urbanismo e Meio Ambiente, a atribuição para oficiar no pedido de autorização.
Publique-se a ementa. Comunique-se. Cumpra-se, providenciando-se a restituição dos autos com urgência, diante da data prevista para a realização do evento (de 17 a 21 de maio), remetendo por via digital cópia dos mesmos ad cautelam.
Providencie-se a remessa de cópia, em via digital, ao Centro de Apoio Operacional Cível e de Tutela Coletiva.
São Paulo, 1º de junho de 2017.
Gianpaolo Poggio Smanio
Procurador-Geral de Justiça
pss