EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR
PRESIDENTE DO E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Protocolado nº 134.830/2016
1) Ação direta de inconstitucionalidade. Inconstitucionalidade de cargos de provimento em comissão previstos na Estrutura Administrativa do Município de Itapetininga.
2) Cargos de provimento em comissão, sem descrição das respectivas atribuições. O núcleo das
competências, dos poderes, dos deveres, dos direitos, do modo da investidura e
das condições do exercício das atividades do cargo público deve estar descritas
na lei. Violação do princípio da reserva legal (art. 115, I, II e V, da
Constituição Estadual).
3) As atividades de advocacia pública e suas respectivas chefias são reservadas a profissionais também recrutados pelo sistema de mérito. Violação de dispositivos da Constituição Estadual (arts. 98 a 100 da Constituição Estadual).
O Procurador-Geral
de Justiça do Estado de São Paulo, no exercício da atribuição prevista no art.
116, inciso VI, da Lei Complementar Estadual n. 734,
de 26 de novembro de 1993, e em conformidade com o disposto no art. 125, § 2º,
e no art. 129, inciso IV, da Constituição da República, e ainda no art. 74,
inciso VI, e no art. 90, inciso III, da Constituição do Estado de São Paulo,
com amparo nas informações colhidas no incluso protocolado, vem perante esse
Egrégio Tribunal de Justiça promover a presente AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE em face das expressões “Assessor I”, “Assessor II”,
“Assessor III”, “Maestro da Corporação Musical”, “Chefe”, “Assessor IV”,
“Diretor”, “Assessor V”, “Supervisor”, “Procurador Geral do Município”, “Sub Procuradores”
e “Assessor VI”, insertas no Anexo I da Lei Complementar nº 27, de 23 de
dezembro de 2008 e do art. 3º da Lei Complementar nº 30, de 16 de abril de
2009, ambas do Município de Itapetininga, pelos fundamentos expostos a seguir.
1.
DO ATO NORMATIVO IMPUGNADO
O
protocolado que instrui esta inicial de ação direta de inconstitucionalidade e,
a cujas folhas esta petição se reportará, foi instaurado a
partir de representação encaminhada a esta Procuradoria-Geral de Justiça,
a fim de apurar a constitucionalidade de cargos de provimento em comissão
previstos na Secretaria de Negócios Jurídicos do Município de Itapetininga.
A
Lei Complementar nº 27, de 23 de dezembro de 2008, do Município de
Itapetininga, “Dispõe sobre a reestruturação, organização e modificação da
Estrutura Administrativa no âmbito do Executivo Municipal, e promove a criação
de Secretarias Municipais, cargos e dá outras providências” (fls. 783/786)
O
Anexo I da Lei Complementar nº 27, de 23 de dezembro de 2008, do Município de
Itapetininga, dispõe sobre o quadro de cargos de provimento em comissão, com a
seguinte redação (fls. 783/786):
“(...)
ANEXO I
QUADRO DE CARGOS EM COMISSÃO DA PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAPETININGA
Nº Cargos |
DENOMINAÇÃO |
SIMB. |
REF. |
14 |
SECRETÁRIO |
C.C |
Subsídio |
04 |
Assessor I |
C.C |
I |
04 |
Assessor II |
C.C |
II |
37 |
Assessor III |
C.C |
III |
01 |
Maestro da Corporação Musical |
C.C |
III |
11 |
Chefe |
C.C |
III |
31 |
Assessor IV |
C.C |
IV |
48 |
Diretor |
C.C |
V |
08 |
Assessor V |
C.C |
V |
01 |
Procurador Geral do Município |
C.C |
VI |
02 |
Sub Procuradores |
C.C |
V |
03 |
Assessor VI |
C.C |
VI |
(...)”
O
art. 3º da Lei Complementar nº 30, de 16 de abril de 2009, do Município de
Itapetininga, dispõe sobre a criação de mais cargos de provimento em comissão
de Assessor e Supervisor, com a seguinte redação (fls. 798/799):
“(...)
Art. 3º - Ficam
acrescidos no ANEXO I do quadro de cargos de provimento em comissão do Poder
Executivo, instituído pela Lei Complementar nº 27, de 23 de dezembro de 2008,
os cargos a seguir relacionados:
Nº de Cargos |
Denominação |
SIMB. |
Ref. |
02 |
Assessor |
C.C |
IV |
01 |
Supervisor |
C.C |
VI |
(...)”
Impugnam-se na presente ação
direta as expressões “Assessor I”, “Assessor II”, “Assessor III”, “Maestro da
Corporação Musical”, “Chefe”, “Assessor IV”, “Diretor”, “Assessor V”,
“Supervisor”, “Procurador Geral do Município”, “Sub Procuradores”
e “Assessor VI”, porque suas atribuições não
estão previstas em lei.
2. O parâmetro da fiscalização abstrata de
constitucionalidade
Os dispositivos acima transcritos dos atos normativos impugnados, contrariam frontalmente a Constituição do Estado de São Paulo, à qual está subordinada a produção normativa municipal ante a previsão dos arts. 1º, 18, 29 e 31 da Constituição Federal.
Os preceitos da Constituição Federal e da Constituição do Estado são aplicáveis aos Municípios por força do art. 29 daquela e do art. 144 desta.
As normas contestadas são incompatíveis com os seguintes preceitos da Constituição Estadual:
“(...)
Art. 98 - A Procuradoria Geral do Estado é instituição de natureza permanente, essencial à administração da justiça e à Administração Pública Estadual, vinculada diretamente ao Governador, responsável pela advocacia do Estado, sendo orientada pelos princípios da legalidade e da indisponibilidade do interesse público.
§ 1º - Lei orgânica da Procuradoria Geral do Estado disciplinará sua competência e a dos órgãos que a compõem e disporá sobre o regime jurídico dos integrantes da carreira de Procurador do Estado, respeitado o disposto nos arts. 132 e 135 da Constituição Federal.
§ 2º - Os Procuradores do Estado, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica na forma do ‘caput’ deste artigo.
§ 3º - Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.
(...)
Art. 99 - São funções institucionais da
Procuradoria Geral do Estado:
I - representar judicial e
extrajudicialmente o Estado e suas autarquias, inclusive as de regime especial,
exceto as universidades públicas estaduais;
II - exercer as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo e das entidades autárquicas a que se refere o inciso anterior;
Art. 100 - A direção superior da Procuradoria-Geral do Estado compete ao Procurador Geral do Estado, responsável pela orientação jurídica e administrativa da instituição, ao Conselho da Procuradoria Geral do Estado e à Corregedoria Geral do Estado, na forma da respectiva lei orgânica.
Parágrafo único - O Procurador Geral do Estado será nomeado pelo Governador, em comissão, entre os Procuradores que integram a carreira e terá tratamento, prerrogativas e representação de Secretário de Estado, devendo apresentar declaração pública de bens, no ato da posse e de sua exoneração.
Artigo 111 - A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos Poderes do Estado, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação, interesse público e eficiência.
(...)
Artigo 115 - Para a organização da administração pública direta e indireta, inclusive as fundações instituídas ou mantidas por qualquer dos Poderes do Estado, é obrigatório o cumprimento das seguintes normas:
I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preenchem os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei;
II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia, em concurso público de provas ou de provas e títulos, ressalvadas as nomeações para cargo em comissões, declarado em lei, de livre nomeação e exoneração;
(...)
V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento.
(...)
Artigo 144 - Os Municípios, com autonomia política, legislativa, administrativa e financeira se auto-organizarão por Lei Orgânica, atendidos os princípios estabelecidos na Constituição Federal e nesta Constituição.
(...)”
Primeiro, porque é inconstitucional a
criação de cargos de provimento em comissão cujas atribuições não estejam
previstas em lei. Isto se adequa ao próprio princípio da legalidade, tendo em
vista que a reserva legal exige lei em sentido formal para disciplina das
atribuições de cargo e/ou emprego público, não satisfazendo a
exigência a descrição das atividades por meio de decreto.
Segundo,
há no quadro de cargos
de provimento em comissão o Procurador Geral do Município e os Sub Procuradores,
e, nos termos dos arts. 98 a 100 da Constituição
Estadual, as atividades de advocacia
pública, e suas respectivas chefias, são reservadas a profissionais investidos
mediante aprovação em concurso público.
De
antemão, cumpre registrar que entendimento diverso
do aqui sustentado significaria, na prática, negativa de vigência aos 98, 99, 100,
111, 115, I, II, V e 144 da Constituição Estadual, bem como aos arts. 37, incisos II e V, da Constituição Federal – como
será adiante corroborado - cuja aplicabilidade à hipótese decorre do art. 144
da Carta Estadual.
3. DA AUSÊNCIA DE DESCRIÇÃO EM LEI DAS ATRIBUIÇÕES REFERENTES
AOS CARGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO DE ASSESSOR I, ASSESSOR II, ASSESSOR III,
MAESTRO DA CORPORAÇÃO MUSICAL, CHEFE, ASSESSOR IV, DIRETOR, ASSESSOR V,
SUPERVISOR, PROCURADOR GERAL DO MUNICÍPIO, SUB PROCURADORES
E ASSESSOR VI, PREVISTOS NA ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DO MUNICÍPIO DE
ITAPETININGA
De início, cumpre mencionar ser inconstitucional
a ausência de disciplina legal das atribuições de cargos públicos de provimento
em comissão.
Na presente situação, não houve
disposição em lei das atribuições
dos cargos de provimento em comissão de Assessor I, Assessor II, Assessor III,
Maestro da Corporação Musical, Chefe, Assessor IV, Diretor, Assessor V,
Supervisor, Procurador Geral do Município, Sub Procuradores e
Assessor VI, insertos no Anexo I da Lei Complementar nº 27, de 23 de
dezembro de 2008 e do art. 3º da Lei Complementar nº 30, de 16 de abril de
2009, do Município de Itapetininga, fato este que implica violação aos arts. 111 e 115, II e V, 144, da Constituição Estadual.
Não basta a lei criar o cargo público de provimento em
comissão se não discriminar minimamente em seu bojo suas atribuições, a fim de
viabilizar controle de sua conformidade com as prescrições constitucionais.
Tendo em vista que a criação de emprego público e/ou cargo e
seu respectivo detalhamento encontram-se adstritos à reserva legal absoluta ou
formal, a fim de se permitir a aferição dos requisitos impostos pelo texto
constitucional quando da sua instituição, a invalidade da disciplina de cargos
de provimento em comissão resta presente em razão da omissão legislativa
atinente à descrição de atribuições, porquanto conforme explica a
doutrina:
“somente
a lei pode criar esse conjunto inter-relacionado de competências, direitos e
deveres que é o cargo público. Essa é a regra geral consagrada no art. 48, X,
da Constituição, que comporta uma ressalva à hipótese do art. 84, VI, b. Esse dispositivo permite ao Chefe do Executivo
promover a extinção de cargo público, por meio de ato administrativo. A criação
e a disciplina do cargo público faz-se necessariamente por lei no sentido de
que a lei deverá contemplar a disciplina essencial e indispensável. Isso
significa estabelecer o núcleo das competências, dos poderes, dos deveres, dos
direitos, do modo da investidura e das condições do exercício das atividades.
Portanto, não basta uma lei estabelecer, de modo simplista, que ‘fica criado o
cargo de servidor público’. Exige-se que a lei promova a discriminação das
competências e a inserção dessa posição jurídica no âmbito da organização
administrativa, determinando as regras que dão identidade e diferenciam a
referida posição jurídica” (Marçal Justen Filho. Curso de Direito Administrativo, São
Paulo: Saraiva, 2005, p. 581).
No caso em comento, da simples análise
das legislações correlatas aos cargos públicos de provimento em comissão editados
no Município de Itapetininga, percebe-se que inexiste lei estabelecendo as
atribuições dos referidos postos, em afronta aos ditames constitucionais
impostos à criação de empregos e cargos desta natureza.
Quando da criação de cargo público de provimento em comissão, cumpre ao legislador traçar em seu texto cada uma das atribuições conferidas ao servidor ocupante de tal cargo, vez que a omissão de mandamento neste sentido impossibilita a aferição da presença dos critérios exigidos pelo constituinte, conduta esta que não pode ser tolerada em um Estado Democrático de Direito, cuja essência resta alicerçada na ampla publicidade de informação, sendo contrário ao seu espírito atos velados, obscuros, sobre os quais resta impossibilitada qualquer espécie de controle:
“(...) 2. Princípio constitucional de maior densidade axiológica e
mais elevada estatura sistêmica, a Democracia avulta como síntese dos
fundamentos da República Federativa brasileira. Democracia que, segundo a
Constituição Federal, se apóia em dois dos mais
vistosos pilares: a) o da informação em plenitude e de máxima qualidade; b) o
da transparência ou visibilidade do Poder, seja ele político, seja econômico,
seja religioso (art. 220 da CF/88). (...)”
(ADPF-MC 130. Relator Min. Carlos Britto. Pleno. Julgamento: 27.02.2008)”
Ou seja, a exigência de reserva legal se faz imperiosa
em se tratando de cargos ou empregos de provimento efetivo e em comissão, posto
que serve à mensuração da perfeita subsunção da
hipótese normativa concreta ao comando constitucional.
É por isso que esse Sodalício exige que a lei descreva as atribuições de cada um dos empregos e cargos, pois, do contrário, não é possível ao Poder Judiciário e demais legitimados a tal controle sindicar se foram criados, efetivamente, para as situações constitucionalmente permitidas.
Nem se alegue, por oportuno, que ao Chefe do Poder Executivo remanesceria eventual competência para descrição das atribuições dos empregos e cargos públicos, sob pena de convalidar a invasão de matéria sujeita exclusivamente à reserva legal.
A possibilidade de regulamento autônomo para
disciplina da organização administrativa não significa a outorga de competência
para o Chefe do Poder Executivo fixar atribuições de emprego e cargo público e
dispor sobre seus requisitos de habilitação e forma de provimento. A alegação
cede à vista do art. 61, § 1°, II, a, da Constituição Federal, e do art. 24, §
2º, 1, da Constituição Estadual que, em coro, exigem
lei em sentido formal. Regulamento administrativo (ou de organização) contém
normas sobre a organização administrativa, isto é, a disciplina do modo de
prestação do serviço e das relações intercorrentes entre órgãos, entidades e
agentes, e de seu funcionamento, sendo-lhe vedado criar cargos públicos,
somente extingui-los desde que vagos (arts. 48, X, 61,
§ 1°, II, a, 84, VI, b, Constituição Federal; art. 47,
XIX, a, Constituição Estadual) ou para os fins de contenção de despesas (art.
169, § 4°, Constituição Federal).
Nesse passo, cabe gizar que, apreciando lei estadual, o Supremo Tribunal Federal reafirmou, em recente oportunidade, que “a delegação de poderes ao Governador para, mediante decreto, dispor sobre ‘as competências, as atribuições, as denominações das unidades setoriais e as especificações dos cargos, bem como a organização e reorganização administrativa do Estado’, é inconstitucional porque permite, em última análise, sejam criados novos cargos sem a aprovação de lei” (ADI 4125, Relator (a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 10/06/2010, DJe-030 DIVULG 14-02-2011 PUBLIC 15-02-2011 EMENT VOL-02464-01 PP-00068).
Todavia, na contramão dos entendimentos
supramencionados, a boa técnica legislativa não fora observada quando da
instituição dos cargos vergastados.
Deste modo, é patente a inconstitucionalidade dos
cargos de provimento em comissão mencionados no
Município de Itapetininga ante a ausência de disciplina legal concernente às
atribuições dos referidos postos, sendo imperiosa a declaração de
inconstitucionalidade das expressões “Assessor I”, “Assessor II”, “Assessor
III”, “Maestro da Corporação Musical”, “Chefe”, “Assessor IV”, “Diretor”,
“Assessor V”, “Supervisor”, “Procurador Geral do Município”, “Sub Procuradores”
e “Assessor VI”, insertas no Anexo I da Lei Complementar nº 27, de 23 de
dezembro de 2008 e do art. 3º da Lei Complementar nº 30, de 16 de abril de
2009, ambas do Município de Itapetininga.
A ausência de fixação de atribuições
desses cargos em lei caracteriza violação dos 111 e 115, I, II e V, da
Constituição Estadual, pois, é exigência elementar à criação de cargos públicos
a descrição de suas atribuições em lei.
4. DOS CARGOS DE ADVOCACIA PÚBLICA
Conforme
demonstrado anteriormente, há no quadro de cargos de provimento em comissão o
Procurador Geral do Município e dos Sub Procuradores. Todavia, as
atividades de advocacia pública, e suas respectivas chefias, são reservadas a
profissionais investidos mediante aprovação em concurso público.
É o que se infere dos arts. 98 a 100 da Constituição Estadual que se reportam ao
modelo traçado no art. 132 da Constituição Federal ao tratar da advocacia
pública estadual.
Os preceitos constitucionais (central
e radial) cunham a exclusividade e a profissionalidade
da função aos agentes respectivos investidos mediante concurso público, cujo
agente deve ser nomeado e exonerado ad
nutum dentre os seus integrantes, o que é reverberado pela jurisprudência:
“AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INCONSTITUCIONALIDADE – ARTS. 35 E 36 E ANEXO III DA LEI 1.751/91 E ART. 3º DA
LEI 1.982/95, AMBAS DO MUNICÍPIO DE ELIAS FAUSTO – INADMISSIBILIDADE DE
PREVISÃO DE EMPREGOS DE PROVIMENTO EM COMISSÃO SEM DESCRIÇÃO DAS RESPECTIVAS
ATRIBUIÇÕES – CARGO DE “CONSULTOR JURÍDICO” QUE DEVE SER PROVIDO NA FORMA DE
SISTEMA DE MÉRITO, POR SE TRATAR DE ADVOCACIA PÚBLICA – PREVISÃO DE
GRATIFICAÇÃO DE ATÉ 100% DE ACRÉSCIMO SALARIAL QUE CONFIGURA AUMENTO INDIRETO E
DISSIMULADO DE REMUNERAÇÃO – VIOLAÇÃO AOS ARTS. 5º, 98, 99, 100, 115, 128 E 144
DA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL – AÇÃO JULGADA PROCEDENTE PELO MÉRITO COM MODULAÇÃO DE
EFEITOS”. (TJSP, II nº 2145442-41.2015.8.26.0000, Órgão Especial, Rel. João
Negrini Filho, julgado em 27 de janeiro de 2016, v.u)
AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – Arts. 1º, §1º, II e
III, e 8º, da Lei nº 1.585/2009, e art. 1º, parágrafo único, II, da Lei nº
1.568/2009, todas do município de Salesópolis – Criação
dos cargos de “Diretor Técnico Jurídico do Departamento de Contenciosos
Judiciais e Execução Fiscal” e “Diretor Técnico Jurídico do departamento de
Assuntos Administrativos, Licitações, Contratos e Convênios” e “Advogado” –
Descrição que caracteriza atividade exclusiva funcional dos integrantes da
Advocacia Pública, cuja investidura no cargo depende de prévia aprovação em
concurso público – Violação dos artigos 98 a 100, da Constituição Paulista –
Ação procedente, modulados os efeitos desta decisão para terem início em cento
e vinte dias contados a partir deste julgamento”. (TJSP, ADI
nº 2163849-95.2015.8.26.0000, Órgão Especial, Rel. Luiz Antonio de Godoy,
julgado em 09 de dezembro de 2015, v.u)
“AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. Questionamento do artigo 11 da Lei nº 10, de 26 de março
de 2014, do município de Palestina, na parte em que criou o cargo de provimento
em comissão de “Assessor Jurídico”. Alegação de inconstitucionalidade.
Reconhecimento. Cargo que – a par de não corresponder
a funções de direção, chefia e assessoramento superior – tem as mesmas
atribuições da Advocacia Pública e, pela ausência de situação de emergência e
excepcionalidade, deve ser reservado a profissional recrutado por sistema de
mérito e aprovação em certame público, nos termos do art. 98 a 100, da
Constituição Estadual. Inconstitucionalidade manifesta. Ação julgada
procedente.” (TJSP, ADI nº
2155538-52.2014.8.26.0000, Órgão Especial, Rel. Ferreira Rodrigues, julgado em
13 de maio de 2015, v.u)
Assim, não bastassem à ausência das atribuições em lei para o cargo de Procurador Geral do Município e dos Sub Procuradores, por força dos art. 98 a 100 da Constituição Estadual, não há possibilidade de ser cargo de provimento em comissão.
À saciedade demonstrado o fumus boni iuris, pela ponderabilidade
do direito alegado, soma-se a ele o periculum
in mora. A atual tessitura dos preceitos legais do Município de
Itapetininga apontados como violadores de princípios e regras da Constituição
do Estado de São Paulo é sinal, de per si,
para suspensão de sua eficácia até final julgamento desta ação, evitando-se
ilegítima investidura em empregos públicos e a consequente oneração financeira
do erário.
Está claramente demonstrado
não haver lei dispondo a respeito das atribuições dos cargos de provimento em
comissão de “Assessor
I”, “Assessor II”, “Assessor III”, “Maestro da Corporação Musical”, “Chefe”,
“Assessor IV”, “Diretor”, “Assessor V”, “Supervisor”, “Procurador Geral do
Município”, “Sub Procuradores” e “Assessor VI”,
insertos no Anexo I da Lei Complementar nº 27, de 23 de dezembro de 2008 e do art.
3º da Lei Complementar nº 30, de 16 de abril de 2009, ambas do Município de
Itapetininga.
E há no quadro de cargos de provimento em comissão o Procurador
Geral do Município e os Sub Procuradores, e, nos termos dos arts. 98 a
100 da Constituição Estadual, as
atividades de advocacia pública, e suas respectivas chefias, são reservadas a
profissionais investidos mediante aprovação em concurso público.
O perigo da demora decorre, especialmente, da ideia de que, sem a imediata suspensão da vigência e da eficácia da disposição normativa questionada, subsistirá a sua aplicação. Serão realizadas despesas que, dificilmente, poderão ser revertidas aos cofres públicos na hipótese provável de procedência da ação direta.
Basta lembrar que os pagamentos realizados aos servidores públicos nomeados para ocuparem tais cargos, certamente, não serão revertidos ao erário, pela argumentação usual, em casos desta espécie, no sentido do caráter alimentar da prestação e da efetiva prestação dos serviços.
A ideia do fato consumado, com repercussão concreta, guarda relevância para a apreciação da necessidade da concessão da liminar na ação direta de inconstitucionalidade.
Note-se que, com a procedência da ação, pelas razões declinadas, não será possível restabelecer o status quo ante.
Assim, a imediata suspensão da eficácia das normas impugnadas evitará a ocorrência de maiores prejuízos, além dos que já se verificaram.
De resto, ainda que não houvesse essa singular situação de risco, restaria, ao menos, a excepcional conveniência da medida.
Com efeito, no contexto das ações diretas e da outorga de provimentos cautelares para defesa da Constituição, o juízo de conveniência é um critério relevante, que vem condicionando os pronunciamentos do Supremo Tribunal Federal, preordenados à suspensão liminar de leis aparentemente inconstitucionais (cf. ADIN-MC 125, j. 15.2.90, DJU de 4.5.90, p. 3.693, rel. Min. Celso de Mello; ADIN-MC 568, RTJ 138/64; ADIN-MC 493, RTJ 142/52; ADIN-MC 540, DJU de 25.9.92, p. 16.182).
À luz deste perfil, requer a concessão de liminar para a
suspensão da eficácia das expressões “Assessor I”, “Assessor II”, “Assessor III”, “Maestro da
Corporação Musical”, “Chefe”, “Assessor IV”, “Diretor”, “Assessor V”,
“Supervisor”, “Procurador Geral do Município”, “Sub Procuradores”
e “Assessor VI”, insertas no Anexo I da Lei Complementar nº 27, de 23 de
dezembro de 2008 e do art. 3º da Lei Complementar nº 30, de 16 de abril de
2009, ambas do Município de Itapetininga.
6. DO PEDIDO PRINCIPAL.
Diante
de todo o exposto, aguarda-se o recebimento e processamento da presente ação
declaratória, para que, ao final, seja ela julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade das expressões “Assessor I”, “Assessor II”, “Assessor
III”, “Maestro da Corporação Musical”, “Chefe”, “Assessor IV”, “Diretor”,
“Assessor V”, “Supervisor”, “Procurador Geral do Município”, “Sub Procuradores” e “Assessor VI”, insertas no Anexo I da Lei
Complementar nº 27, de 23 de dezembro de 2008 e do art. 3º da Lei Complementar
nº 30, de 16 de abril de 2009, ambas do Município de Itapetininga.
Requer-se,
ainda, que sejam requisitadas informações à Câmara Municipal e ao Prefeito
Municipal de Itapetininga, bem como posteriormente citado o Procurador-Geral do
Estado para manifestar-se sobre os atos normativos impugnados.
Posteriormente,
aguarda-se vista para fins de manifestação final.
Termos em que,
Aguarda-se deferimento.
São Paulo, 17 de janeiro de
2017.
Gianpaolo Poggio Smanio
Procurador-Geral de Justiça
ef/mi
Protocolado n. 134.830/2016
Interessado: Sr. Francisco Carlos Silva Janez
Promova-se
a distribuição de ação direta de inconstitucionalidade, instruída com o
protocolado incluso, em face das expressões “Assessor
I”, “Assessor II”, “Assessor III”, “Maestro da Corporação Musical”, “Chefe”,
“Assessor IV”, “Diretor”, “Assessor V”, “Supervisor”, “Procurador Geral do
Município”, “Sub Procuradores” e “Assessor VI”,
insertas no Anexo I da Lei Complementar nº 27, de 23 de dezembro de 2008 e do art.
3º da Lei Complementar nº 30, de 16 de abril de 2009, ambas do Município de
Itapetininga.
Oficie-se ao interessado, informando-lhe a propositura
da ação, com cópia da petição inicial.
São Paulo, 17 de janeiro de 2017.
Gianpaolo Poggio Smanio
Procurador-Geral de Justiça
ef/mi