EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Protocolado
n. 22.297/17
Ementa: Constitucional. Administrativo. Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 2º, incisos II,III, IV, V, e IV, e Art. 3º, da Lei n. 734, de 16 de fevereiro de 1.998, do Município de Estrela do Norte. Contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público. Ausência de excepcionalidade. Arts. 111, 115, II e X, da CE/89. 1. A contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público só se legitima se a lei municipal explicitar o caráter excepcional e a indispensabilidade da hipótese de cabimento. 2. Lei local que genericamente disciplina as contratações por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público é incompatível com o art. 115, X, CE/89, que reproduz o art. 37, IX, CF/88. 3. A descrição de hipóteses que não denotam transitoriedade burla o sistema de mérito, compatível com os princípios da isonomia, moralidade, impessoalidade e eficiência (art. 111 e 115, II, CE/89). 4. A extensão temporal da contratação não se conforma com a transitoriedade reclamada.
O PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO, no exercício da atribuição prevista no art. 116, VI, da Lei Complementar Estadual n. 734, de 26 de novembro de 1993 (Lei Orgânica do Ministério Público de São Paulo), em conformidade com o disposto no art. 125, § 2º e art. 129, IV, da Constituição Federal, e ainda nos arts. 74, VI e 90, III, da Constituição do Estado de São Paulo, com amparo nas informações colhidas no incluso protocolado, vem, respeitosamente, perante esse egrégio Tribunal de Justiça, promover a presente AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE em face do art. 2º, incisos II, III, IV, V, e IV, e art. 3ºda Lei n. 734, de 16 de fevereiro de 1.998, do Município de Estrela do Norte, pelos fundamentos a seguir expostos:
I – OS ATOS NORMATIVOS IMPUGNADOS
A
Lei n. 734, de 16 de fevereiro de 1.998, do Município de Estrela do Norte, que
“Dispõe sobre a contratação de pessoal por tempo determinado”, tem a seguinte
redação, na parte que nos é pertinente (fls. 06/07).
“Art. 2º - As contratações nos termos
desta Lei somente poderão ocorrer em caso de:
I-
(...)
II-
Campanha
de Saúde Pública;
III-
Implantação
de serviços urgentes e inadiáveis;
IV-
Saída voluntária, de dispensa ou de
afastamento transitório de servidores, cuja ausência possa prejudicar
sensivelmente os serviços;
V-
Execução
de serviços absolutamente transitórios e de necessidade esporádica;
VI-
Execução direta de obra determinada;
Art. 3º - A contratação será feita
independente da existência de cargo, emprego ou função observando-se prazo
determinado e compatível com cada situação, por prazo de 01 (um) ano,
prorrogável por igual período, ressalvando o disposto no parágrafo único do
deste artigo;”
II – O parâmetro da fiscalização abstrata de
constitucionalidade
A
Constituição Federal assegura aos Municípios autonomia, mas, determina-lhes
respeito aos princípios da própria Constituição Federal e da Constituição
Estadual (art. 29). A Constituição do Estado de São Paulo em atenção ao art. 29
da Constituição da República assim dispõe:
Art. 144. Os Municípios, com autonomia política,
legislativa, administrativa e financeira se auto-organizarão por lei orgânica,
atendidos os princípios estabelecidos na Constituição Federal e nesta
Constituição.
Destarte,
as Constituições Federal e Estadual preordenam o exercício da autonomia municipal.
Os
preceitos e diplomas legais acima destacados contrariam frontalmente a Constituição do Estado de São Paulo, à qual
está subordinada a produção normativa municipal ante a previsão dos arts. 1º,
18, 29 e 31 da Constituição Federal, porque são incompatíveis com o disposto nos arts. 111 e 115,
II e X, da Constituição do Estado de São Paulo que assim preceituam:
Artigo 111
- A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos
Poderes do Estado, obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade, razoabilidade, finalidade, motivação, interesse
público e eficiência.
.............................................................................................
Artigo 115
- Para a organização da administração pública direta e indireta, inclusive
as fundações instituídas ou mantidas por qualquer dos Poderes do Estado, é
obrigatório o cumprimento das seguintes normas:
..............................................................................................
II - a
investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia, em
concurso público de provas ou de provas e títulos, ressalvadas as nomeações
para cargo em comissão, declarado em lei, de livre nomeação e exoneração;
..............................................................................................
X - a
lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado, para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público.
1.
As hipóteses de contratação temporária de
pessoal
Os
incisos II a VI do art. 2º da Lei n. 734, de 16 de fevereiro de 1998,
genericamente disciplinam as contratações por tempo determinado para atender a
necessidade temporária de excepcional interesse público, à míngua de qualquer
característica excepcional.
Neste
sentido, explica a literatura que:
“(...) empregando o termo excepcional para caracterizar o interesse público do Estado, a Constituição deixou claro que situações administrativas comuns não podem ensejar o chamamento desses servidores. Portanto, pode dizer-se que a excepcionalidade do interesse público corresponde à excepcionalidade do próprio regime especial” (José dos Santos Carvalho Filho. Manual de Direito Administrativo, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, 9. ed., pp. 478-479).
“trata-se, aí, de ensejar suprimento de pessoal perante contingências que desgarrem da normalidade das situações e presumam admissões apenas provisórias, demandadas em situações incomuns, cujo atendimento reclama satisfação imediata e temporária (incompatível, portanto, com o regime normal de concursos) (...) situações nas quais ou a própria atividade a ser desempenhada, requerida por razões muitíssimo importantes, é temporária, eventual (não se justificando a criação de cargo ou emprego, pelo quê não haveria cogitar do concurso público), ou a atividade não é temporária, mas o excepcional interesse público demanda que se faça imediato suprimento temporário de uma necessidade (neste sentido, ‘necessidade temporária’), por não haver tempo hábil para realizar concurso, sem que suas delongas deixem insuprido o interesse incomum que se tem de acobertar” (Celso Antonio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Malheiros, 2009, 20. ed., pp. 281-282).
A lei específica não poderá utilizar de cláusulas
amplas, genéricas e indeterminadas. Deve empregar conceitos que consubstanciem
aquilo que seja possível conceber na excepcionalidade. Neste sentido, já foi
decidido:
“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO: CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. C.F., art. 37, IX. Lei 9.198/90 e Lei 10.827/94, do Estado do Paraná. (...) III. - A lei referida no inciso IX do art. 37, C.F., deverá estabelecer os casos de contratação temporária. No caso, as leis impugnadas instituem hipóteses abrangentes e genéricas de contratação temporária, não especificando a contingência fática que evidenciaria a situação de emergência, atribuindo ao chefe do Poder interessado na contratação estabelecer os casos de contratação: inconstitucionalidade. IV. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente” (RTJ 192/884).
“CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL CAPIXABA QUE DISCIPLINOU A CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE SERVIDORES PÚBLICOS DA ÁREA DE SAÚDE. POSSÍVEL EXCEÇÃO PREVISTA NO INCISO IX DO ART. 37 DA LEI MAIOR. INCONSTITUCIONALIDADE. ADI JULGADA PROCEDENTE. (...) III - O serviço público de saúde é essencial, jamais pode-se caracterizar como temporário, razão pela qual não assiste razão à Administração estadual capixaba ao contratar temporariamente servidores para exercer tais funções. IV - Prazo de contratação prorrogado por nova lei complementar: inconstitucionalidade. V - É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de não permitir contratação temporária de servidores para a execução de serviços meramente burocráticos. Ausência de relevância e interesse social nesses casos. VI - Ação que se julga procedente” (STF, ADI 3.430-ES, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, 12-08-2009, v.u., DJe 23-10-2009).
Não é somente a temporariedade de uma
atividade que justifica a contratação por tempo determinado, pois, ela pode ser
desempenhada por recursos humanos constantes do quadro de pessoal permanente.
Para autorizá-la, é mister que a lei precise a excepcionalidade da medida.
A título exemplificativo, as situações
ventiladas nos incisos II (campanha de saúde pública), III (implantação de
serviços urgentes) e IV (saída voluntária, de dispensa ou afastamento), V
(execução de serviços de necessidade esporádica) e VI (execução direta de obra
determinada) do art. 2º, da Lei 734/98, não espelham extraordinariedade,
imprevisibilidade e urgência que fundamentam a legitimidade da admissão
temporária de pessoal no serviço público, na medida em que traduzem situações
concretas ou abstratas, presentes, passadas ou futuras, da rotina
administrativa, e cuja execução compete, de ordinário, a servidores públicos
titulares de cargos de provimento efetivo. Mencionados dispositivos da lei
local – através de expressões abrangentes e genéricas - autorizam a contratação
temporária para a prestação de serviços públicos que tipicamente incumbem à
Administração Pública, não configurando situação capaz de legitimar a
contratação por tempo determinado.
Não é possível afirmar
aprioristicamente que as contratações por tempo determinado para campanhas de
saúde pública sejam hábeis para atendimento de necessidade de excepcional
interesse público.
No
tocante ao inciso II, campanhas de saúde pública, como as de vacinação em prol
de grupos vulneráveis (sarampo, gripe etc.) são episódicas, porém não são
excepcionais, incomuns ou extraordinárias.
Este
mesmo raciocínio se perfaz no quanto a implantação de serviços urgentes ou a
execução de serviços transitórios previstos nos incisos III e V,
do art. 2º, da Lei 734/98, bem como na execução direta de obra ou afastamento
transitório de servidores.
É
necessário ressaltar que a posição aqui sustentada encontra esteio em julgados
desse E. Tribunal de Justiça, nos seguintes termos:
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.
Dispositivos da Lei nº 3.581, de 20 de novembro de 2013, que disciplina as
contratações por tempo determinado no Município de Adamantina. Ausência do
requisito de necessidade temporária de excepcional interesse público,
reportando-se a norma a atividades regulares e corriqueiras. Repercussão geral
reconhecida no STF (Tema nº 612). Inconstitucionalidade reconhecida. Ação
procedente, com modulação”. (TJSP, ADI nº 2069047-08.2015.8.26.0000, Órgão Especial, Rel. Tristão
Ribeiro, julgado em 26 de agosto de 2015, v.u)
“AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE – Dispositivos da Lei nº 214/2000 do Município
de Itajobi, que instituiu o Programa de Saúde da Família, e alterações
posteriores – Contratações por tempo determinado – Necessidade de observância
da regra de prestação de concurso público, com interpretação restritiva às
hipóteses que a excepcionam – Para que se considere válida a contratação
temporária, é preciso que: a) os casos excepcionais estejam previstos em lei;
b) o prazo de contratação seja predeterminado; c) a necessidade seja
temporária; d) o interesse público seja excepcional; e) a necessidade de
contratação seja indispensável – Requisitos não preenchidos no caso –
Desrespeito aos artigos 111, 115, incisos II e X, e 144 da Constituição
Estadual – Inconstitucionalidade configurada – Ação julgada procedente, com
modulação dos efeitos”. (TJSP, ADI nº
2225484-77.2015.8.26.0000, Órgão Especial, Rel. Moacir Peres, julgado em 16 de
março de 2016, v.u)
“AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE
Art.
2º, incisos III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X e parágrafo único; art. 3º, caput
e art. 4º e incisos, da Lei nº 3.155, de 03 de dezembro de 2014, de
Itaquaquecetuba, Contratação, por tempo determinado, para atendimento de
necessidade temporária de excepcional interesse público.
Natureza dos serviços a prestar. Inadmissível quando não se
apresentam imprevisíveis ou extraordinários.
Prazo
máximo de contratação razoável. Próximo do admitido em precedentes do STF.
Inconstitucionalidade
(art. 111 e art. 115, II e X, CE).
Modulação. (art. 27 da Lei nº 9.868/99).
Procedente, em parte, a ação, com
modulação”. (TJSP,
ADI nº 2210.892-28.2015.8.26.0000, Órgão Especial, Rel. Evaristo dos Santos,
julgado em 27 de janeiro de 2016, v.u)
“Ação
Direta de Inconstitucionalidade. Incisos III e VII do art. 2º, e do artigo 3º e
§1º (redação dada pelas Leis 2.279/14 e 2.245/13), ambos da Lei 1.027, de 10 de
março de 1995, do Município de São Sebastião. Contratação temporária para
‘campanhas de saúde pública’ e ‘de menores aprendizes’. Inconstitucionalidade.
Inexistência de situação de necessidade temporária de excepcional interesse
público. Inconstitucionalidade, ainda, da autorização para contratação por
lapso temporal superior a 12 (doze) meses. Ação procedente, com efeitos a
partir de 120 dias da data do julgamento”. (TJSP, ADI nº 2128333-14.2015.8.26.0000, Órgão
Especial, Rel. Borelli Thomaz, julgado em 09 de dezembro de 2015, v.u)
O tema foi objeto de Repercussão Geral no Colendo STF, o qual assim sem se manifestou:
“Recurso extraordinário. Repercussão
geral reconhecida. Ação direta de inconstitucionalidade de lei municipal em
face de trecho da Constituição do Estado de Minas Gerais que repete texto da
Constituição Federal. Recurso processado pela Corte Suprema, que dele conheceu.
Contratação temporária por tempo determinado para atendimento a necessidade
temporária de excepcional interesse público. Previsão em lei municipal de
atividades ordinárias e regulares. Definição dos conteúdos jurídicos do art.
37, incisos II e IX, da Constituição Federal. Descumprimento dos requisitos
constitucionais. Recurso provido. Declarada a inconstitucionalidade da norma
municipal. Modulação dos efeitos.
1. O assunto corresponde ao Tema nº 612
da Gestão por Temas da Repercussão Geral do portal do STF na internet e trata,
“à luz dos incisos II e IX do art. 37 da Constituição Federal, da
constitucionalidade de lei municipal que dispõe sobre as hipóteses de
contratação temporária de servidores públicos”.
2. Prevalência da regra da
obrigatoriedade do concurso público (art. 37, inciso II, CF). As regras que
restringem o cumprimento desse dispositivo estão previstas na Constituição
Federal e devem ser interpretadas restritivamente.
3. O conteúdo
jurídico do art. 37, inciso IX, da Constituição Federal pode ser resumido,
ratificando-se, dessa forma, o entendimento da Corte Suprema de que, para que
se considere válida a contratação temporária, é preciso que: a) os casos
excepcionais estejam previstos em lei; b) o prazo de contratação seja
predeterminado; c) a necessidade seja temporária; d) o interesse público seja
excepcional; e) a necessidade de contratação seja indispensável, sendo vedada a
contratação para os serviços ordinários permanentes do Estado, e que devam
estar sob o espectro das contingências normais da Administração.
A imposição
constitucional da obrigatoriedade do concurso público é peremptória e tem como
objetivo resguardar o cumprimento de princípios constitucionais, dentre eles,
os da impessoalidade, da igualdade e da eficiência. Deve-se, como em outras
hipóteses de reconhecimento da existência do vício da inconstitucionalidade,
proceder à correção da norma, a fim de atender ao que dispõe a Constituição
Federal. (RE n. 658.026). Regra constitucional é a admissão de pessoal nos órgãos e
entidades da Administração Pública mediante prévia aprovação em concurso
público de provas ou de provas e títulos, como estampa o art. 115, II, da
Constituição Estadual, que reproduz o art. 37, II, da Constituição Federal.
Ressalvada a investidura em cargos de provimento em comissão, a admissão de
pessoal é sempre orientada por essa regra.
A Constituição Estadual no art. 115, X,
reproduz o quanto disposto no art. 37, IX, da Constituição da República,
possibilitando limitada, residual e excepcionalmente a admissão de pessoal por
tempo determinado em razão de necessidade administrativa transitória de
excepcional interesse público. Não é qualquer interesse público que autoriza a
contratação temporária – que constitui outra exceção à regra do concurso
público – somente aquele que veicula uma necessidade do aparelho administrativo
na prestação de seus serviços, devendo, ademais, concorrer a excepcionalidade
desse interesse público, a temporariedade da contratação e a submissão à
previsão legal, notadamente pela imprevisibilidade e extraordinariedade da
situação e a impossibilidade de a Administração Pública acorrê-lo com meios
próprios e ordinários de seu quadro de recursos humanos.
A admissão de pessoal a termo, portanto,
deve objetivar situações anormais, urgentes, incomuns e extraordinárias que
molestem as necessidades administrativas, não se admitindo dissimulação na
investidura em cargos ou empregos públicos à margem do concurso público e para
além das ressalvas constitucionais, pois, segundo José dos Santos Carvalho
Filho há três elementos que configuram pressupostos na contratação temporária:
a determinabilidade temporal, a temporariedade da função e a excepcionalidade
do interesse público (Manual de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, 9. ed., pp. 478-479).
A lei específica não poderá utilizar de
cláusulas amplas, genéricas e indeterminadas. Deve empregar conceitos que
consubstanciem aquilo que seja possível conceber na excepcionalidade. MG, Rel. Min. Dias Toffoli, dje
31/10/2014)
2. Prazos desarrazoados
A admissibilidade da contratação por tempo determinado visa
ao “suprimento de pessoal perante contingências que desgarrem da normalidade
das situações e presumam admissões apenas provisórias, demandadas em situações
incomuns, cujo atendimento reclama satisfação imediata e temporária
(incompatível, portanto, com o regime normal de concursos) (...) situações nas
quais ou a própria atividade a ser desempenhada, requerida por razões
muitíssimo importantes, é temporária, eventual (não se justificando a criação
de cargo ou emprego, pelo quê não haveria cogitar do concurso público), ou a
atividade não é temporária, mas o excepcional interesse público demanda que se
faça imediato suprimento temporário de uma necessidade (neste sentido,
‘necessidade temporária’), por não haver tempo hábil para realizar concurso,
sem que suas delongas deixem insuprido o interesse incomum que se tem de
acobertar” (Celso Antonio Bandeira de Mello. Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Malheiros, 2009, 20.
ed., pp. 281-282).
Em síntese, como deliberou o
Supremo Tribunal Federal:
“3. À luz
do conteúdo jurídico do art. 37, inciso IX, da Constituição da República e da
jurisprudência firmada por esta Suprema Corte em sede de Repercussão Geral (RE
658.026, Relator Min. Dias Toffoli, Tribunal Pleno, DJe 31.10.2014),
a contratação temporária reclama os seguintes requisitos para sua
validade: (i) os casos excepcionais devem estar previstos em lei; (ii)
o prazo de contratação precisa ser predeterminado; (iii) a
necessidade deve ser temporária; (iv) o interesse público deve ser
excepcional; (iv) a necessidade de contratação há de ser
indispensável, sendo vedada a contratação para os serviços ordinários
permanentes do Estado, e que devam estar sob o espectro das contingências
normais da Administração, mormente na ausência de uma necessidade temporária”
(STF, ADI 5.163-GO, Tribunal Pleno, Rel. Min. Luiz Fux. 08-04-2015, v.u., DJe
18-05-2015).
O art. 3º da
Lei 734/98, ao prever que as contratações por tempo determinado terão prazo de
até um ano, prorrogável por igual período está em desconformidade com o
princípio da razoabilidade, constante do art. 111 da Constituição Estadual. A
medida não se apresenta adequada, necessária e proporcional ao interesse
público, configurando excesso repugnante ao bom senso, à lógica, à
racionalidade.
III – Pedido
Face ao exposto, requer o recebimento e o processamento da presente ação para que, ao final, seja julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do art. 2º, incisos II, III, IV, V, e IV, e art. 3ºda Lei n. 734, de 16 de fevereiro de 1.998, do Município de Estrela do Norte.
Requer
ainda sejam requisitadas informações à Câmara Municipal e ao Prefeito Municipal
de Estrela do Norte, bem como
posteriormente citado o douto Procurador-Geral do Estado para se manifestar
sobre o ato normativo impugnado, protestando por nova vista, posteriormente,
para manifestação final.
Termos
em que, pede deferimento.
São Paulo, 22 de maio de 2017.
Gianpaolo Poggio Smanio
Procurador-Geral de Justiça
ef/sh
Protocolado n.
22297/17
1. Distribua-se
a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade, em face do art. 2º,
incisos II, III, IV, V, e IV, e art. 3ºda Lei n. 734, de 16 de fevereiro de
1.998, do Município de Estrela do Norte, junto ao Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo.
2. Oficie-se ao interessado, informando-lhe a propositura da ação, com cópia da petição inicial.
São
Paulo, 22 de maio de 2017.
Gianpaolo Poggio Smanio
Procurador-Geral de Justiça
ef/sh