MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA

 

 

DECLARAÇÃO DE VOTO.

 

 

Entendo necessário, ao concordar genericamente com as conclusões da Comissão, manifestar discordância em específico aspecto.

Não há dúvida de que muitas são as causas da criminalidade e da violência nos grandes centros urbanos.

Respeitável a opinião de muitos estudiosos, segundo a qual a origem desses fenômenos pode estar em fatores sociais diversos, tais como a expansão da miséria, o aumento do desemprego, a política econômica mundial, a desagregação da família e o afrouxamento dos costumes.

Existe, todavia, um novo e interessante enfoque, resultante de algumas linhas de pesquisa na Sociologia e na Ciência Política, principalmente nos Estados Unidos, que não relaciona obrigatoriamente indicadores sociais à incidência da criminalidade violenta, desacreditando assim a tese de que o crime ocorre para contrabalançar a carência de recursos materiais.

Por esses estudos verificou-se, em síntese, o seguinte: mesmo em locais e épocas em que os indicadores sociais não pioraram os crimes violentos aumentaram expressivamente. Foi o que ocorreu na Europa e nos Estados Unidos nos últimos trinta anos, período em que houve, de um lado, uma melhoria paulatina das condições sociais, de outro, um crescimento vertiginoso da criminalidade violenta.

Daí porque, nessa moderna ótica, a atuação da polícia é uma variável importantíssima a ser considerada, isso porque a incidência dos crimes violentos reage muito mais rapidamente diante de alguns fatores - como contingente de policiais nas ruas, número de viaturas e de efetivas operações policiais - do que de todos os outros.

Assim, para essa linha de pesquisa, onde existe uma má qualidade da atuação policial prolifera muito mais a ação do criminoso, de modo que a atuação eficaz e preventiva da polícia é fundamental para a redução rápida e drástica dos índices de criminalidade violenta. A tática foi usada, com notável sucesso, em grande e conhecida cidade americana.

De modo que não posso concordar, com grande vênia, com a afirmação da Comissão segundo a qual "a diminuição dos índices de criminalidade dependerá mais de mudanças outras do que de qualquer mudança que se possa implementar na política de segurança".

Meu entendimento - formado pelas linhas de estudo que mencionei - é bem o contrário: a diminuição rápida dos índices de criminalidade depende principalmente de mudança a ser implementada na política de segurança.

Ocorre que o Governo do Estado de São Paulo e a Secretaria da Segurança Pública fracassaram e faliram exatamente na área da Segurança Pública. Das múltiplas razões da queda - há até quem duvide de que exista atualmente uma política de segurança pública - quero ressaltar duas que não são novas, não foram apenas por mim identificadas e que me parecem interessantes.

Faliram porque são muito tímidos na prevenção e repressão dos crimes e muito ousados na punição de policiais, para eles sempre presumivelmente culpados: servidores públicos cumprindo o seu dever suportam restrições em suas atividades liminarmente, situação injusta e absurda que faz policiais - não se olvide dos relatos de Promotores e Procuradores de Justiça roubados quando reunidos em jantar comemorativo - fugirem do atendimento de ocorrências sérias e de confrontos com criminosos como o diabo foge da Cruz.

Fracassaram porque parecem identificar, como a mídia já percebeu e apontou, quaisquer atividades policiais como nefastas, associando a repressão necessária à manutenção da ordem pública com ato típico de Tirania e Ditadura. Dessa forma, curiosamente, muito contribuem para destruir o Princípio da Autoridade, sempre apontado como fundamental para a manutenção da Democracia.

 

 

São Paulo, 2 de janeiro de 2001.

 

Nelson Lacerda Gertel

Procurador de Justiça

 

Retorna à página de índice

Retorna à página inicial