Brasileira presa por golpe de visto nos EUA após operação do MP faz acordo com Justiça americana


Valéria Dozzi Barbugli, uma das líderes da quadrilha que aplicava o golpe do visto de trabalho norte-americano e foi desbaratada no ano passado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, em operação conjunta com a Polícia Civil, Polícia Federal e Consulado Americano em São Paulo, fez um acordo com a Justiça norte-americana nesta semana. Valéria declarou-se culpada dos crimes de fraude de visto e conspiração para tráfico de seres humanos e fez um acordo pelo qual concordou em pagar multa de US$ 55 milhões.

A quadrilha de Valeria usava documentos falsos no esquema para obter vistos de trabalho temporário para estrangeiros à procura de trabalho nos Estados Unidos.

As empresas da quadrilha atuavam como intermediárias de mão-de-obra para empresas dos EUA. Os empregadores garantiam um número determinado de vagas, mas a quadrilha requisitava à Imigração norte-americana um número muito maior de vistos de trabalho temporário. Assim, para cada vaga no mercado norte-americano, a quadrilha incrementava vagas para encaminhamento ao departamento de imigração dos EUA e ainda vendia um número de contratos muito maior, com oferta de vagas que sabiam não existir. Desta forma, de milhares de pessoas que haviam pago pelo visto, a maior parte nem chegava a embarcar porque tinha o visto negado. Dos que chegavam aos Estados Unidos, uma minoria conseguia efetivamente o trabalho. Muitas das pessoas enganadas, sem dinheiro e sem o trabalho prometido, permaneciam nos Estados Unidos como imigrantes ilegais, e ainda eram ameaçadas de delação à Imigração pela quadrilha.

 

Segundo as autoridades norte-americanas, a quadrilha obteve fraudulentamente mais de mil vistos H2B (visto de trabalho temporário). O valor do acordo (US$ 55 milhões) firmado por Valéria corresponde ao lucro da quadrilha em quatro anos de atividades ilegais. Somente um hotel da Flórida pagou mais de US$ 200 mil dólares a uma das empresas da quadrilha, a VR Serviços, para que ela recrutasse trabalhadores estrangeiros temporários. A VR Serviços também contratou trabalhadores para pelo menos 14 hotéis na Flórida, Ohio e Arkansas.

A partir de 2006, a quadrilha criou 11 empresas subsidiárias para solicitar os vistos. No Brasil, as empresas da quadrilha cobravam, em média, R$ 10 mil pelo visto de trabalho temporário nos Estados Unidos. Cerca de nove mil pessoas foram lesadas no Brasil com esse esquema fraudulento.

Segundo a rede CBS News, os documentos judiciais dizem que Valéria Barbugli agiu com "desrespeito imprudente" por lei "a fim de obter vantagens comerciais e ganhos financeiros privados". Ela está sob custódia na Cadeia do Condado de Orange, em Orlando, na Flórida. O marido dela, Wilson Rodrigues Barbugli, e o filho do casal, Eduardo Dozzi Barbugli, também estão presos na Cadeia do Condado de Seminole, em Sanford, Flórida.

No dia da operação que desbaratou a quadrilha, coordenada pelo Grupo de Atuação Especial de combate ao Crime Organizado (Gaeco) – Núcleo Guarulhos, 11 pessoas foram presas: quatro delas em São Paulo, duas em Uberlândia (MG); uma em Palhoça (SC) e quatro em Curitiba (PR). Nos dias seguintes à operação, foram presos Rodrigo Dozzi Calza, sobrinho de Valéria, e Sean Michael Michele. O Ministério Público denunciou 19 integrantes do grupo por estelionato e formação de quadrilha.

Em razão da atuação no caso, o Ministério Público recebeu, no mês passado, o prêmio Awards 2010, oferecido pelo Consulado dos Estados Unidos em São Paulo.